sombra e água fresca

revista Vogue
edição 459
novembro de 2016

São 8h  de um sábado ensolarado, e Ana Carolina Gayoso nos recebe de pés descalços, com uma mesa de café  da manhã caprichada à beira de um gramado que se estende quase até o mar da Praia Rasa, em Búzios, onde duas canoas importadas do Havaí com remos de madeira chamam a atenção.

Entre uma garfada e outra nos mimos light preparados à la minute, ela levanta para se despedir do marido, o empresário Antonio Dias Leite, com quem é casada há oito anos, que está saindo para pedalar.

O caso de amor de Carolina com o balneário que flechou Brigitte Bardot nos anos 60 começou na adolescência: a carioca é habituée de Búzios desde que a Praia Rasa – cuja extensão de quase 8 km é hoje tomada por casas vistosas – era deserta e só os descolados da época frequentavam o lugar. “Angra não é a minha cara. Prefiro Búzios, que é mais pé na areia.”

A infância da empresária sempre foi perto do mar – os avós tinham uma casa em Boa Viagem, no Recife, onde ela pegava onda com uma pranchinha de body-board de isopor. Foi também na Búzios da década de 80 que conheceu o primeiro marido e pai de seus dois filhos (Bianca, 28 anos, e João Pedro, 26), o esportista Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o saudoso Pepê – que foi a cara do Rio e morreu em 1991, quando participava do mundial de voo livre no Japão.

Depois de uma viagem de Pepê ao país, onde foi campeão do mundo com sua asa-delta em 1981, surgiu a ideia de criar o restaurante Tatsumi, um dos primeiros especializados na gastronomia japonesa na Zona Sul carioca e desde 1990 nomeado Sushi Leblon.

Além da Barraca do Pepê, um marco da alimentação saudável no Rio, aberta em 1981 e point na praia da Barra da Tijuca desde então, e do Sushi Leblon, Carolina também comanda ao lado das sócias Bia Stewart, sua irmã, e Marina Hirsch os restaurantes Zuka e Brigites, inaugurados, respectivamente, em 2002 e 2011.

Desde 2013, o time de mulheres ganhou mais uma integrante: a filha da empresária, Bianca, sucessora de Carolina no império gastronômico. No início foi difícil. Tinha dias que queria conversar só com minha mãe, não com a chefe. Demorou para afinar essa relação, mas hoje dá supercerto, conta Bianca.

No Rio dos anos 80, a Dias Ferreira – rua onde estão os três restôs de Carolina e hoje o endereço para ver e ser visto na cidade – abrigava de sapateiro a açougue. Era uma rua de comércio tranquila, lembra.

Dos restaurantes de lá daquela época, apenas o Celeiro, referência em comida saudável, permanece também no mesmo lugar. O prédio de esquina, onde fica o Sushi Leblon, era antes ocupado por um bar de um amigo de Pepê. Nada dava certo no ponto, mas Pepê pressentiu que ali seria o local mais badalado da cidade. A inauguração do negócio aconteceu no dia de seu aniversário, em 2 de setembro de 1986, só para amigos. O campeão morreu antes de ver a concretização plena da transformação do endereço.

Hoje, as mulheres se equilibram em saltos altos na muvuca da calçada de pedras portuguesas, e os homens, do meio da rua, bebericam uma cerveja enquanto disputam uma das mesas onde já jantaram Tom Cruise, Madonna, Orlando Bloom e tantos outros famosos e anônimos.

Com capacidade para 90 pessoas por vez, em dias de muito agito o restô chega a receber mais de 700 clientes.

O trunfo do Sushi Leblon, em meio a tantos outros restaurantes do mesmo gênero na cidade? Fomos pioneiros da culinária japonesa no Rio. Além disso, pesquisamos muito. Estou sempre viajando para o Japão e Nova York em busca de novidades. Este ano, por exemplo, desenvolvemos cervejas artesanais para harmonizar com a comida, explica Carolina.

Quando não está no apartamento de frente para a praia de Ipanema, ela escapa para a casa de Búzios, que divide há seis anos com a irmã Bia. No refúgio da Praia Rasa, lê e relaxa ao som das ondas.

Além de descanso, lá é também lugar de praticar esportes e onde os amigos são sempre bem-vindos. Quando a casa está cheia, Carolina organiza almoços com peixes e mariscos comprados fresquinhos na Peixaria de Maguinhos. Sua nova mania é grelhar abacaxis e peras para servir de sobremesa.

A casa, cujo projeto demorou dois anos para ser concluído e foi assinado pelo arquiteto Miguel Pinto Guimarães, é arejada e aconchegante, com claraboias e janelões de vidro que dividem os ambientes, num terreno de 2.000 m². “O que mais gosto é poder ver o mar de qualquer lugar, como se estivesse em um navio.”

Os detalhes do décor ficaram a cargo das irmãs, que garimparam almofadas estampadas em Trancoso e combinaram poltronas de madeira de Carlos Motta a móveis e objetos de decoração da ilha de Java.

Mesmo no dolce far niente, Carolina não abandona a alimentação saudável, característica presente em todos os seus empreendimentos. Nem os esportes: hoje, ela substituiu o body-board e o windsurf por  pedaladas até a vizinha Cabo Frio ou por trilhas em Búzios e remadas nas canoas havaianas em companhia do marido.

Todo mundo que vem aqui acha as canoas o máximo porque quase ninguém tem. Mas vários amigos fortões desistiram de andar nelas de tanto que ela virou. É que a forma de remar é outra, não requer apenas força, mas equilíbrio, se diverte a esportista, que correu para o mar da Praia Rasa logo que nossa sessão de fotos acabou.