Jimmy Choo

revista NOO
junho de 2012

Quando perguntei se gostaria de voltar ao Brasil, respondeu que sim, mas trazendo a mulher, com quem é casado há 21 anos. Ele venera Lady Di, responsável por ter tornado seus sapatos famosos, e de quem se tornou grande amigo. Não é de falar da vida pessoal, mas disse que se não tivesse enveredado pelo caminho do design, gostaria de ter sido médico. Budista, ele procura fazer o bem no seu dia a dia, porque acredita que isso também é uma fonte de cura. Foi por essa razão que resolveu dar aulas na universidade em que estudou: a Cordwainers College, em Londres. Mas como considera a gratidão uma virtude importante, ele adora ser convidado para um chá em retribuição aos seus ensinamentos. Apreciador de sutilezas, esse homem sensível é Jimmy Choo, que veio ao Brasil para o Fashion Rio.

Ainda incrédula, relembro meu encontro com ele. Foi uma coincidência. Estávamos sob o mesmo teto, num espaço do evento de moda. Mas ele estava protegido, numa sala envidraçada, de onde pude vê-lo. De terno e gravata, elegante e discreto. Era com certa estranheza que ficava sob os holofotes. Não parecia estar acostumado a ser o centro das atenções. Quando a porta se abriu por um segundo, entrei, sorrateira, e pedi para fazer apenas algumas perguntas a ele. Sentei ao seu lado. Olhei para baixo e não pude me conter estava usando sapatilhas assinadas por ele. Apontei para meus pés e ele olhou e sorriu, numa timidez mansa.

Filho de sapateiros, Jimmy fez seu primeiro par aos onze, mas suas criações só impactariam o mundo dezesseis anos depois. Ele decidiu se aperfeiçoar na arte de fazer calçados e foi estudar na Inglaterra porque, além de já saber falar o idioma local, acreditava que os melhores designers do mundo saíam de Londres. Se não fosse pelo Reino Unido, não haveria Jimmy Choo, diz.

No início da carreira, vendia seus sapatos em um mercado londrino por £10,00. Hoje, eles custam pelo menos vinte vezes mais. Em suas primeiras criações, Jimmy receava usar seu nome na sola de seus sapatos estava escrito apenas handmade” – porque ele não queria associá-lo a um produto que, apesar de bem feito, era barato, comum e vendido em atacado. Quando você assina alguma coisa, você tem que ser bom, muito bom. Você tem que desenhar uma coisa não usual, senão as pessoas não se interessam, afirma.

O desejo de ver seu nome na mídia, entretanto, era enorme. Mas ele preferiu esperar. Foi no desfile de Primavera/Verão do London Fashion Week de 1988, que seus sapatos debutaram no universo da moda em pares elegantes e não muito altos. Ele não gostava de fazer nada vertiginoso, nem com plataformas. Eu queria ser eu, conta. Pela estação, Jimmy teve mais liberdade usou muita cor e desenhou sapatos com flores, que deram bons frutos e desabrocharam em oito páginas da edição de agosto da Vogue. Meses antes, ninguém queria ajudá-lo. Agora, não podiam mais viver sem ele. Seus sapatos viraram habitués  dos tapetes vermelhos, nos pés de atrizes, cantoras e socialites. Ele saiu da Ásia para ganhar o mundo.

A princesa Diana era cliente fiel de Jimmy. Eu até fazia saltos para ela, mas ela usava muito mais minhas sapatilhas, lembra. Nos pés da realeza, os calçados de Jimmy alcançaram o estrelato. Além de cliente, ela virou uma pessoa muito querida para mim. Ela sempre me chamava para tomar chá”, relembra. Certa vez, numa festa de Natal, ele conheceu seus filhos. Da primeira vez em que Harry me viu, ele apontou para mim e disse Kung Fu man!, ri. Além dela, Katie Holmes foi umas da poucas que também se tornou, além de compradora assídua, uma amiga.

Tudo o que lhe inspira é fotografado. Câmeras e iPhones se tornaram materiais indispensáveis de seu processo criativo. Ele não prometeu fazer nenhuma coleção temática do Brasil, mas assegurou que vai usar muito do que viu aqui em criações futuras. Jimmy Choo é assim: está sempre atrás do inusitado, combinando-o, claro, com bom gosto. O segredo da constante renovação de seu trabalho é ser apaixonado por ele, porque, dessa forma, ele nunca se entedia. E nós vibramos com as novidades.