No Rio Moda Rio, chega a vez do consumidor

revista Vogue
edição 454
junho de 2016

Depois de dois anos sem ter uma semana de moda para chamar de sua, o Rio de Janeiro recebeu, entre os dias 14 e 17 de Junho, o Rio Moda Rio, que marca mais um movimento pela retomada do calendário da moda carioca. O evento estreiou com a proposta de ser a primeira semana de moda brasileira a adotar 100% o modelo see now buy now, que possibilita que consumidores possam adquirir imediatamente (quase) tudo aquilo que é visto nas passarelas.

O see now buy now vai muito além do RMR, ele é uma pressão do mercado. Queremos que pelo menos 20% das peças desfiladas de todas as marcas estejam à venda imediatamente, afirma o curador Carlos Tufvesson. Das 14 marcas que desfilaram no Píer Mauá, entretanto, pelo menos 6 não suprirão os desejos instantâneos do seu consumidor, pondo à venda roupas, acessórios e até vestidos de festa saídos da passarela.

Lenny Niemeyer

Lenny Niemeyer, por exemplo, apresentou na semana de moda carioca a mesma coleção desfilada no último SPFW, em abril, mas as peças só chegam às araras entre o fim de julho e o início de agosto. “A gente não consegue ainda ser see now buy now, mas acho que, no ano que vem, vamos conseguir. É uma questão de adaptação”, resume a estilista.

Isabela Capeto

Mesmo presente no SPFW, a carioca Isabela Capeto não quis deixar de apresentar sua moda no evento carioca após o hiato de dois anos desde o último Fashion Rio. “Continuei com o tema da coleção desfilada em São Paulo, o tempo, mas desenvolvi toda uma nova linha de peças”, conta a designer da marca que leva seu nome. As peças exibidas em São Paulo no mês de abril já estão à venda, mas a coleção apresentada na tarde de quinta-feira só deve estar disponível para compra em agosto. “Não consigo: para mim é impossível porque faço um trabalho artesanal, com bordados, aplicações. Não tenho uma produção gigantesca para seguir o see now buy now”, declara.

Osklen

A marca de Oskar Metsavaht, que apresentou seu verão 2017 ao pôr do sol dos entornos do Museu do Amanhã a mesma coleção exposta no showroom da SPFW, não terá as peças do desfile à venda antes de agosto. “Como a linha em loja em homenageia as Olimpíadas, não faria sentido substituí-la pela coleção desfilada antes do início dos jogos”, esclarece Roberta Profice, assessora de comunicação da marca.

Andrea Marques

Com uma coleção que faz uma ode à Cidade Maravilhosa, Andrea Marques reconhece a inevitabilidade do see now buy now, mas ressalta que é muito complicado disponibilizar com rapidez o tipo de roupa que produz. “O movimento está aí, é algo inegável e que precisamos prestar atenção. A indústria vai se ajustar aos poucos, algumas marcas mais rapidamente, outras vão levar um tempinho a mais… Para ter minhas roupas prontas para venda, eu precisaria ter feito uma grade de cada uma delas, e isso seria uma pronta entrega; é um custo muito alto para uma grife com a minha”, reconhece a estilista.

The Paradise

Para Thomaz Azulay, que junto com Patrick Doering está à frente da The Paradise, a marca faz um see now buy daqui a pouquinho. O estilista acredita que, quem puder, vai se adaptar ao novo paradigma. Mas, com a atual estrutura da marca, a dupla não dá conta da enorme demanda estrutural e comercial que implicaria na comercialização instantânea das peças. “Na nossa equipe somos só nós dois; fazemos um trabalho muito elaborado. Talvez mais pra frente, com outra estrutura de empresa, a gente consiga fazer see now buy now”, afirma Thomaz.

Patricia Vieira

O see now buy now não é um conceito tão novo assim para Patricia Vieira, estilista da marca que leva seu nome. Sempre que lançava suas jaquetas e roupas de couro, recebia pedidos urgentes de suas clientes, que em janeiro e fevereiro costumam viajar para o inverno do hemisfério norte. Há seis coleções, passou a ter as peças disponíveis logo após as apresentações. “Sempre lançamos nossas peças de inverno no auge do verão e corremos para produzi-las para que elas possam entrar nas malas da cliente que viaja para o inverno no nosso verão e para o verão no nosso inverno”, resume Andreia Vieira Batista, diretora de marketing da marca. A designer apresentou sua coleção na tarde de quarta-feira. Na quinta, suas criações já podiam ser encontradas na loja da Dias Ferreira.

Martu

Marta Rocha, da Martu, debutante no universo dos desfiles, entregou um convite com dois eventos: o desfile de quarta à noite no Píer Mauá, e a venda das peças desfiladas na própria loja da marca na quinta-feira, com direito a DJ, bar e comidinhas. “Se pudesse, a Marta teria vendido na passarela mesmo, como acontecia antigamente nos desfiles de alta costura, em que as pessoas levantavam plaquinhas e compravam na hora” conta Duda Padilha, gerente de marketing da marca. Por não fazer showroom, essa foi a forma que a marca encontrou de fazer a ponte entre o produto e o consumidor.

Blue Man

Para Sharon Azulay, que comanda seu primeiro desfile como diretora criativa à frente da Blue Man, a data do Rio Moda Rio facilita que se coloque o see now buy now em prática. “Em abril, a produção está fazendo mostruário para vender atacado, é uma loucura. Eu teria que parar a fábrica. Mas sou muito favor desse movimento”, afirma a estilista. Pelo menos 10 modelagens da coleção desfilada na noite de sexta-feira estarão à venda na pop up store da marca no evento e devem chegar na próxima semana às lojas. Sharon reconhece que, graças à força das redes sociais e à velocidade dos compartilhamentos, o encanto do consumidor muitas vezes se perde na tela do celular e, quatro meses depois, quando as peças são lançadas, ele já tenha novos desejos.

Terá chegado a vez do consumidor ditar a moda?