Dez autores para ficarmos de olho em 2020

Poeme-se
10.01.2020

Por Henrique Rodrigues

A literatura em língua portuguesa vai bem. Ainda que a pluralidade de escrita não tenha equivalente num volume proporcional de leitores, cabe divulgar o que temos feito de bom e sonhar com o dia em que as pessoas queiram comprar livros com o mesmo ímpeto de telefones celulares. De todo modo, nestes tempos de censuras e violências – dois termos que, infelizmente, não podem mais ser usados no singular –, as ideias, metáforas, metonímias, rimas, gritos, memórias, reflexões, todo esse arsenal de que os escritores lançam mão são mais do que necessários para as nossas vidas.

Felipe Holloway

O seu romance “O legado de nossa miséria” (Record) vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2019 desbancou mais de mil concorrentes, então merece muito a leitura. Um professor e um crítico literário se encontram num simpósio, e daí os fios de diálogo são puxados e costurados numa boa prosa borgiana. O autor é cearence radicado em Cuiabá.

Nuno Rau

Poeta carioca que deveria ser muito mais lido e conhecido, face o seu grande domínio do fazer poético, como pode ser visto no excelente “Mecânica Aplicada” (Patuá). Se a poesia popular tem abdicado da técnica em função do urgente grito social, como pode ser visto nos muitos saraus e slams país adentro, cabe espaço também para o verso que dialoga e recria a tradição.

Pedro Bomba

Por falar em saraus e técnica, vale muito ler/ver e ouvir o sergipano (mas que mora em BH) Pedro Bomba. No seu trabalho poético a oralidade é resultado de pesquisa e apuro. Se não o vir numa apresentação, confira no “Extremamente barulhentos certos assuntos, por exemplo” (Uratau).

Luiza Mussnich

Ainda na poesia, a carioca Luiza Mussnich representa bem a vertente do poema epigramático, cujo recado pode ser dado, muitas vezes, num dístico ou único verso. “Lágrimas não caem do espaço” (7Letras) vale leitura. Não por acaso, sua poética encontra muito caminho na internet, onde a velocidade de vertigem é (e precisa ser) interrompida pelo toque lírico.

Vagner Amaro

O bibliotecário e editor carioca mostra que também domina muito bem a prosa. No livro de contos “Eles” (Malê), Amaro apresenta perspectivas de como as masculinidades precisam se reinventar. Vale atentar para o recorte cotidiano entre os personagens e os enredos.

Andrea Zamorano

No romance “A casa das rosas” (Tinta Negra), voltamos ao período das Diretas Já para acompanhar a transição que é também da protagonista Eulália. Tal como o país, a jovem precisa sair de um ambiente repressor em busca da liberdade. Revisitar esses momentos históricos é bem importante em tempos de curva como o nosso. A autora é carioca e mora em Lisboa.

Ana Pessoa

Falando em Lisboa, a portuguesa Ana Pessoa consegue encontrar um raro tom para escrever sobre o universo complexo dos jovens, numa lacuna que, no Brasil, nem a LIJ escolar e o young adult dão conta. Vale conferir o maravilhoso “Mary John” (Ed. Sesi SP), atentando para o recurso do discurso indireto livre.

João Gabriel Paulsen

Ainda sobre jovem, o estudante mineiro de Juiz de Fora, com apenas 19 anos, venceu o Prêmio Sesc 2019 em Conto com “O doce e o amargo” (Record). É muito surpreendente ver como o autor mergulha em temas tão complexos – pela qualidade de texto e faixa etária, creio que chegou um nome importante que vai amadurecer ao longo desta década.

Daniela Kopsch

Uma surpresa recente foi “O pior dia de todos” (Tordesilhas), desta jornalista catarinense. Ela cobriu o Massacre de Realengo (para quem não se lembra, em 2011 um ex-aluno invadiu uma escola pública e matou 12 alunos, a maioria meninas), e converteu o material num romance tão fluente quanto perturbador sobre essa tragédia.

Marcelo Moutinho

Eis aí um prosador maduro, cuja trajetória acompanho de perto nos últimos 20 anos, por isso afirmo sem nenhum exagero que se trata de um dos melhores contistas em atividade no país. Neste mês sai o “Rua de dentro” (Record), novo livro de contos do jornalista carioca, que já li e recomendo pacas. Uma pedrada.