Luiza Mussnich indica 4 poetas

Vogue Brasil
online
julho de 2018

Depois de Microscópio (megamíni, 2017), a jornalista Luiza Mussnich lança hoje (31.07), pela 7letras na Livraria da Vila dos Jardins, seu segundo livro de poesias: Lágrimas não caem no espaço.

São versos curtos e certeiros inspirados na cultura pop, nos vários deslocamentos urbanos e um olhar aguçado para o cotidiano que conversam muito com a geração millennial e cativam quase que instantaneamente. “Tento encontrar poesia nas pequenas banalidades, como o corretor do Whatsapp ou até mesmo numa chave ou cadeado”, revela a autora carioca em entrevista à Vogue.

Foram dois anos de produção intensa, a maioria escrita dentro do avião – na época Luiza se deslocava semanalmente para um curso em Porto Alegre e essas horas offline foram preciosas para sua escrita. “É um livro que olha para a rotina de uma forma especial, com lampejos de epifania”.

Aqui, a escritora entrega 4 autores que a influenciaram e que você precisa conhecer já:

HILDA HILST

Vale a pena ler por que:  “Por ser feminista e muito à frente de sua geração. É uma mulher que olhava a vida de forma singular falando do sagrado e do profano”.

Poema que você precisa conhecer:

Dúplices e atentos

Lançamos nossos barcos

No caminho dos ventos.

E nas coisas efêmeras

Nos detemos

CHICO ALVIM

Vale a pena ler por que: “Pela forma simples de dizer coisas complexas.  É uma aparente simplicidade, que na verdade é cheia de camadas – e é aí que está a graça toda. São poesias cômicas e trágicas ao mesmo tempo”.

Poema que você precisa conhecer:

Fundo

No dia seguinte

tratei ela muito bem

Ela nem olhou pra minha cara

Não liguei

Mas no fundo

ALICE WALKER

Vale a pena ler por que:  “A poesia dela é muito potente. Ela fala do poema como repositório de experiências e sentimentos e diz que há um lugar para onde deve ir o medo, a escolha, a perda e até o amor que transborda da xícara cheia demais”.

Poema que você precisa conhecer:

How poems are made

Letting go

In order to hold one

I gradually understand

How poems are made.

There is a place the fear must go.

There is a place the choice must go.

There is a place the loss must go.

The leftover love.

The love that spills out

Of the too full cup

And runs and hides

Its too full self

In shame.

I gradually comprehend

How poems are made

To the upbeat flight of memories.

The flagged beats of the running

Heart.

I understand how poems are made.

They are the tears

That season the smile.

The stiff-neck laughter

That crowds the throat.

The leftover love.

I know how poems are made.

There is a place the loss must go.

There is a place the gain must go.

The leftover love.

WISLAWA SZYMBORSKA

Vale a pena ler por que: “Uma autora que já ganhou o Nobel e tem um estilo bem único. Ela tem um poema maravilhoso sobre frases que poderiam ser ditas num enterro. Roubei essa ideia e fiz um poema dedicado a ela sobre frases que poderiam ser ouvidas num casamento.

Poema que você precisa conhecer:

Funeral

Tão de repente, quem podia adivinhar?

nervos e cigarro, eu bem que avisei

mais ou menos, obrigado

desembrulhe essas flores

o irmão também foi do coração, deve ser de família

com essa barba eu nunca ia reconhecer você

a culpa é dele, estava sempre metido em alguma

aquele novo ia fazer o discurso, não consigo encontrar ele

O Kazek está em Varsóvia, o Tadek no exterior

só você foi esperta, trouxe o guarda-chuva

e daí que era o mais talentoso deles

um quarto de passagem, a Baska não vai concordar

claro que ele tinha razão, mas isso ainda não é motivo

com uma portinha esmaltada, adivinha quanto

duas gemas, uma colherinha de açúcar

não era da conta dele, pra que isso

só azuis e só números pequenos

cinco vezes, e nenhuma resposta

que seja, eu podia, mas você também podia

ainda bem que pelo menos ela tinha esse cargo

não, não sei, talvez parentes

o padre é a cara do Belmondo

ainda não estive nessa parte do cemitério

sonhei com ele faz uma semana, foi um pressentimento

não é feia a filha

é  que nos espera a todos

deem pêsames à viúva por mim, tenho que correr para

no entanto em latim soava mais solene

foi-se, acabou-se

adeus, minha senhora

que tal uma cerveja

me ligue, a gente se fala

o número quatro ou o doze

vou pra cá

nós pra lá.