POEMAS de Luiza Mussnich

dizem que é sempre nos olhos
que as pessoas são mais tristes
mais do que no vale formado entre as clavículas, na curva da mão esquerda, na borda do lábio inferior, na cascata morena que recai sobre o rosto

o tempo sempre aumenta falhas
fissuras?

que tipo de informação seria possível obter
se eu contasse os riscos
dos seus olhos lilases
como se faz com o tronco de uma árvore derrubada?
eu poderia chegar ao cerne? descobrir aquilo que você ama? o que faz lacrimejar?
não é somente sua íris rajada que se locomove depressa tentando escapar da escuridão
há ainda fantasmas
dançando nas sombras rachadas dessas paredes

transformar ansiedade em vapor
freio da fome
efeito dramático
dizem que dá câncer
sedução anos cinquenta
onde não se encosta os lábios durante uma guerra para não transmitir doenças
escapismo
vício que acompanha algum outro vício
resolver um problema físico
bom recurso para uma fotografia ou cena
não estar só
possível encurtamento da vida
para quando não souber o que fazer com as mãos
uma boa conversa
cinzas
aquilo que meu avô trocava por comida nos dois anos em que foi prisioneiro

o que realmente importa do passado se divide
em duas categorias:
coisas que gostaríamos de lembrar
coisas que não pudemos esquecer