Restos de Carnaval
E agora que acabou? Quando que a gente vai beber cerveja todo dia de novo? E discutir feito experts marcha atlética e canoagem slalom, saber tudo sobre judô e esgrima? Pintar o rosto de verde e amarelo e cantar a musiquinha do Maradona — mesmo que não seja jogo contra a Argentina? Vaiar o cara da vara francês (gringolândia, é que aqui a gente está acostumado a torcer em estádio de futebol…) e “ameaçar” um dos cobradores de pênalti alemães com um “vai morrer” (mesmo que ele não pudesse entender patavinas!)? Ou de, na falta de um brasileiro na disputa, torcer para outra figura do ringue: o juiz brazuca? E o Monster Block, hit das arenas de vôlei? Buáááá!
Quando iremos ouvir nosso hino com tanta frequência e força, num coro de umedecer os olhos e emudecer os corações? Fico sem palavras e arrepiada só de lembrar. As olimpíadas acabaram, mas não em mim — serão eternas.
Já sinto falta do BRT se distorcendo feito minhoca naquelas curvas na altura da alvorada. E do longo caminhar ao Parque Olímpico. De conhecer montanhas que não me lembro de ter visto antes na travessia da Barra até Deodoro. Desculpe, Rio, é que há muito de você que não conheço bem — ainda. Obrigada por sua imensidão e beleza. E pelo seu povo que, mesmo tendo que tirar leite de pedra, é alegre. E sabe fazer festa. Um jornal inglês usou uma boa definição para resumir nossas olimpíadas: imperfeitamente perfeitas. Continuamos com os mesmos problemas, mas fizemos nosso melhor para encantar o mundo de forma autêntica. Que esse encantamento traga dias melhores.
Como vai ser voltar à rotina, ao metrô que ainda não funciona em sua plenitude? Sinto falta das cores das bandeiras e das gentes diferentes de nós enquanto atravesso as ruas vazias. Quase consigo ouvir o barulho que parou, os sotaques e idiomas que não são nossos. Até o Cristo entristeceu, estranhando a calma que lhe cerca sem os devotos e pagãos lhe prestando homenagem.
Um clima de fim de festa, de um amor que acabou. “Restos do carnaval”. E agora? Que venham as Paralimpíadas!