Restos de Carnaval

site da editora Guarda-Chuva
agosto de 2016

E agora que acabou? Quando que a gente vai beber cerveja todo dia de novo? E discutir feito experts marcha atlética e canoagem slalom, saber tudo sobre judô e esgrima? Pintar o rosto de verde e amarelo e cantar a musiquinha do Maradona mesmo que não seja jogo contra a Argentina? Vaiar o cara da vara francês (gringolândia, é que aqui a gente está acostumado a torcer em estádio de futebol) e ameaçar” um dos cobradores de pênalti alemães com um vai morrer(mesmo que ele não pudesse entender patavinas!)? Ou de, na falta de um brasileiro na disputa, torcer para outra figura do ringue: o juiz brazuca? E o Monster Block, hit das arenas de vôlei? Buáááá!

Quando iremos ouvir nosso hino com tanta frequência e força, num coro de umedecer os olhos e emudecer os corações? Fico sem palavras e arrepiada só de lembrar. As olimpíadas acabaram, mas não em mim — serão eternas.

sinto falta do BRT se distorcendo feito minhoca naquelas curvas na altura da alvorada. E do longo caminhar ao Parque Olímpico. De conhecer montanhas que não me lembro de ter visto  antes na travessia da Barra até Deodoro. Desculpe, Rio, é que há muito de você que não conheço  bem ainda. Obrigada por sua imensidão e beleza. E pelo seu povo que, mesmo tendo que tirar leite de pedra, é alegre. E sabe fazer festa. Um jornal inglês usou uma boa definição para resumir nossas olimpíadas: imperfeitamente perfeitas. Continuamos com os mesmos problemas, mas fizemos nosso melhor para encantar o mundo de forma autêntica. Que esse encantamento traga dias melhores.

Como vai ser voltar à rotina, ao metrô que ainda não funciona em sua plenitude? Sinto falta das cores das bandeiras e das gentes diferentes de nós enquanto atravesso as ruas vazias. Quase consigo ouvir o barulho que parou, os sotaques e idiomas que não são nossos. Até o Cristo entristeceu, estranhando a calma que lhe cerca sem os devotos e pagãos lhe prestando homenagem.

Um clima de fim de festa, de um amor que acabou. “Restos do carnaval”. E agora? Que venham as Paralimpíadas!