Luiza Mussnich indica 4 poetas
A autora carioca lança seu segundo livro de poesias e recomenda seus favoritos
Depois de Microscópio (megamíni, 2017), a jornalista Luiza Mussnich lança hoje (31.07), pela 7letras na Livraria da Vila dos Jardins, seu segundo livro de poesias: Lágrimas não caem no espaço.
São versos curtos e certeiros inspirados na cultura pop, nos vários deslocamentos urbanos e um olhar aguçado para o cotidiano que conversam muito com a geração millennial e cativam quase que instantaneamente. “Tento encontrar poesia nas pequenas banalidades, como o corretor do Whatsapp ou até mesmo numa chave ou cadeado”, revela a autora carioca em entrevista à Vogue.
Foram dois anos de produção intensa, a maioria escrita dentro do avião – na época Luiza se deslocava semanalmente para um curso em Porto Alegre e essas horas offline foram preciosas para sua escrita. “É um livro que olha para a rotina de uma forma especial, com lampejos de epifania”.
Aqui, a escritora entrega 4 autores que a influenciaram e que você precisa conhecer já:
HILDA HILST
Vale a pena ler por que: “Por ser feminista e muito à frente de sua geração. É uma mulher que olhava a vida de forma singular falando do sagrado e do profano”.
Poema que você precisa conhecer:
Dúplices e atentos
Lançamos nossos barcos
No caminho dos ventos.
E nas coisas efêmeras
Nos detemos
CHICO ALVIM
Vale a pena ler por que: “Pela forma simples de dizer coisas complexas. É uma aparente simplicidade, que na verdade é cheia de camadas – e é aí que está a graça toda. São poesias cômicas e trágicas ao mesmo tempo”.
Poema que você precisa conhecer:
Fundo
No dia seguinte
tratei ela muito bem
Ela nem olhou pra minha cara
Não liguei
Mas no fundo
ALICE WALKER
Vale a pena ler por que: “A poesia dela é muito potente. Ela fala do poema como repositório de experiências e sentimentos e diz que há um lugar para onde deve ir o medo, a escolha, a perda e até o amor que transborda da xícara cheia demais”.
Poema que você precisa conhecer:
How poems are made
Letting go
In order to hold one
I gradually understand
How poems are made.
There is a place the fear must go.
There is a place the choice must go.
There is a place the loss must go.
The leftover love.
The love that spills out
Of the too full cup
And runs and hides
Its too full self
In shame.
I gradually comprehend
How poems are made
To the upbeat flight of memories.
The flagged beats of the running
Heart.
I understand how poems are made.
They are the tears
That season the smile.
The stiff-neck laughter
That crowds the throat.
The leftover love.
I know how poems are made.
There is a place the loss must go.
There is a place the gain must go.
The leftover love.
WISLAWA SZYMBORSKA
Vale a pena ler por que: “Uma autora que já ganhou o Nobel e tem um estilo bem único. Ela tem um poema maravilhoso sobre frases que poderiam ser ditas num enterro. Roubei essa ideia e fiz um poema dedicado a ela sobre frases que poderiam ser ouvidas num casamento.
Poema que você precisa conhecer:
Funeral
Tão de repente, quem podia adivinhar?
nervos e cigarro, eu bem que avisei
mais ou menos, obrigado
desembrulhe essas flores
o irmão também foi do coração, deve ser de família
com essa barba eu nunca ia reconhecer você
a culpa é dele, estava sempre metido em alguma
aquele novo ia fazer o discurso, não consigo encontrar ele
O Kazek está em Varsóvia, o Tadek no exterior
só você foi esperta, trouxe o guarda-chuva
e daí que era o mais talentoso deles
um quarto de passagem, a Baska não vai concordar
claro que ele tinha razão, mas isso ainda não é motivo
com uma portinha esmaltada, adivinha quanto
duas gemas, uma colherinha de açúcar
não era da conta dele, pra que isso
só azuis e só números pequenos
cinco vezes, e nenhuma resposta
que seja, eu podia, mas você também podia
ainda bem que pelo menos ela tinha esse cargo
não, não sei, talvez parentes
o padre é a cara do Belmondo
ainda não estive nessa parte do cemitério
sonhei com ele faz uma semana, foi um pressentimento
não é feia a filha
é que nos espera a todos
deem pêsames à viúva por mim, tenho que correr para
no entanto em latim soava mais solene
foi-se, acabou-se
adeus, minha senhora
que tal uma cerveja
me ligue, a gente se fala
o número quatro ou o doze
vou pra cá
nós pra lá.