Nova York, meu amor
Sinatra já cantava que Nova York é a cidade que nunca dorme, com suas ruas que nos renovam, luzes inspiradoras e poemas escritos nos muros. Poliglota, Nova York anda de sneakers ou botas de salto, dependendo da ocasião; dança techno no Brooklyn, escuta um jazz tomando uísque no Smalls ou os músicos anônimos no metrô (até o U2 já foi desses incógnitos). Nova York se fantasia no dia das bruxas e muda de cor e mood muitas vezes por ano. Contraste vivo, a cidade se vira e desvira para agradar a todos os estilos, paladares e sonhos.
Celebrando essa pluralidade, a cidade ganhou um museu pop up (conceito de museu bem apropriado para seu caráter transitório), que abriu e fechou suas portas deixando gosto de quero-mais: o Museum of Feelings. Uma iniciativa da Glade, a proposta era captar as emoções dos visitantes e transformá-las em arte. Com uma parede feita para o público tocar, caleidoscópios que mudavam seus desenhos de acordo com o humor dos participantes, sensores para ouvir e outros onde respirar, instalações para brincar e imaginar, o visitante ia se revelando e produzindo cores e formas com suas emoções. A construção que abrigou o museu também se tingia de azul, verde, rosa, vermelho e amarelo para tentar captar todas as facetas da cidade.
E já que o Museum of Feelings deixou à mostra as diferenças entre os seres que passam por Nova York, eis uma seleção de exposições para todos os gostos: tem Jim Shaw e sua arte que explora a cultura americana e seu subconsciente com viés bem ácido no New Museum. O Whitney sedia uma retrospectiva da carreira do Frank Stella, conhecido por seu minimalismo, abstração e cores em quadros enormes; enquanto o MoMa apresenta duas exposições, uma com mais de cem esculturas de Picasso e outra de Jackson Pollock e a evolução da sua pintura. No Guggenheim, todos os andares em caracol culminam para os mais lindos quadros do italiano Alberto Burri, que fazia arte com pedaços de tecido velho, plástico, madeira, ferro e até mofo. Para quem gosta de moda, a exposição das roupas haute couture espalhafatosas da condessa Jacqueline de Ribes – um dos ícones de estilo mais influentes do século XX – está no Metropolitan.
Agora, se literatura é a sua praia, não perca a exposição na Morgan Library dedicada à vida e obra de Ernest Hemingway, com rascunhos de seus cadernos, primeiras páginas que ele acabou cortando de seus livros, histórias que ele escreveu quando era editor da revista da escola e correspondências com pedidos de conselho a Gertrude Stein. Lá a gente descobre que até mesmo ele, Hemingway, tinha dificuldade com os títulos.
E à tardinha, quando o sol reflete uma luz dourada nos arranha-céus e logo some, a cidade – vestida do jeito que for – se abre toda numa nova gama de possibilidades, porque a noite está só começando e Nova York não vai para a cama.